sexta-feira, 13 de outubro de 2017

A profissão das profissões

Estive aqui a pensar! No meu país existem muitas profissões e também muitos profissionais. Todos os dias me avisto com eles. Elas são boas e eles estão bem! Mas não todas, apenas a maior parte delas. Existem muitas profissões no meu país mas deixe-me perpassar algumas delas.

É estético ver o engenheiro de electricidade no seu trabalho de dimensionamento da rede de transporte de energia ou no terreno ao cravar cabos. É muito bonito! Também assisto os outros a furtar, desperdiçar energia e a promover a poluição sonora. Isto também é bonito!

É estético ver o médico que trata a nossa saúde e muitas vezes quase ressuscita uma criança ou um adulto na eminência da morte. É simplesmente belo! Nem quero falar das filas nem da escassez dos fármacos. O médico está ai para lhe servir.

É estético deparar um agrónomo munido com as suas ferramentas e esferográfica para calcular a prosperidade da produção, e assim encher as nossas panças e criar condições para a nossa boca lançar todo o tipo de palavradas em todos os sentidos. Sem a barriga cheia não teríamos forças para falar bujardas. Isto também é bonito!

É estético ver o piloto a descolar e aterrizar o avião. É maravilhoso saber que as vidas dos passageiros dependem do piloto que em segurança chegam ao seu destino. É belo também ouvir as palavradas dos passageiros que chegam ao destino com vida. Estas palavradas existem porque chegaram ao destino. Isto também é belo!

É interessante observar o polícia munido com as suas ferramentas aterrorizantes garantir a ordem e tranquilidade públicas, colocando a sua própria vida em perigo. Mesmo com todo tipo de ingratidões e insultos ele continua firme na sua tarefa. Isto também é belo!
É estético ver o músico com os seus tamborins, flautas e outros instrumentos agradar a nossa alma e relaxar a nossa mente. É simplesmente primoroso!

É belo ver o economista nas suas previsões de controlo da economia, agindo para a estabilização da situação económica e social do país e não só. É igualmente excelente!
É interessante ver sujeitos, por dentro e fora das profissões, que se beneficiam dos lucros e no sossego lançam palavradas provando a sua saciedade, saúde, segurança, tranquilidade e energia. De outra forma eles não existiriam. Isto também é muito belo!

É excelente ver o professor a educar, ensinar e formar o engenheiro, o electricista, o agrónomo, o médico, o piloto, o polícia, o músico, o economista e os sujeitos de dentro e de fora das profissões. Isto é mesmo muito belo!
É interessante ainda ver o professor empenhado na formação do professor. Isto é ainda mais belo e muito estético! Rogo para que um dia ela seja a profissão das profissões!

Joseph Katame

jkatame@gmail.com

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A Ogia e o Justo

Ambulei vários dias e várias noites. Vi muita coisa debaixo da terra. Sei que sou ainda muito novo, provavelmente exista ainda muita coisa por ver e ouvir. Também sei que o meu coração pode avaliar de forma enganosa as coisas que vejo, porque afinal sou humano e portanto imperfeito.

Nas minhas caminhadas de quatro pernas e paragens de duas pernas conheci e convivi com um rapaz de nome Justo e uma rapariga chamada Ogia, alta que tinha pernas muito afinadas como uma agulha, cabeça muito grande, braços compridos que tocavam o solo e lábios extremamente longos. Os dois eram amigos. Esta rapariga gostava de falar e falava muito mais do que a própria fala. Muitas das vezes ela abria a boca para descrever as suas boas qualidades físicas e psicológicas. Ela era bonita e inteligente aos seus próprios olhos. As suas pernas finas como agulha era a máxima, a cabeça de mil litros era a melhor de todas e os braços eram charmosos do que o próprio charme. A meu ver ela tinha razão, as suas qualidades físicas são boas, porque algo fora do comum é uma beleza de invejar.

Toda a pessoa que tenha características incomuns como bundas ao nível de Ronaldo, ou olhos de bola; pernas arqueadas ou nariz alongado; estatura mais baixa que um anainho ou mais alta que um comprido, essa pessoa devia se sentir abençoada. Por que as pessoas que têm um modelo de veículo que nenhuma outra pessoa possui se sentem abençoadas? E porque uma pessoa com olhos de bolas não deve se sentir abençoada? Assim como a pessoa com veículo sente-se alegre assim também devia se sentir o de olhos de bola. Isso chama-se orgulho positivo.

Mas voltemos a Ogia. Ela para além das boas qualidades físicas tem outras qualidades que fazem dela uma pessoa difícil de se lidar. É uma pessoa que não admite que está a sofrer ou que sente falta de algo. Ela é capaz de mentir e roubar para manter a impressão de que está tudo bem com ela. É capaz de soltar gases só para interromper uma conversa que visava aconselha-lo.

Um orgulhoso é infalível nas suas opiniões. Você pode tentar esgrimir quaisquer argumentos mas o orgulhoso continuará irredutível. O orgulhoso nunca reconhece que erra ou que pode errar. O orgulhoso nem sabe que é orgulhoso, e quando alguém lhe alerta sobre essa sua qualidade, ele reage com agressividade e torna-se o seu inimigo. O orgulhoso confia apenas no seu próprio coração e mais nada. Ele não muda de opinião nem de raciocínio.

A minha amiga Ogia pensa que é sempre capaz de discernir e interpretar a vontade de Deus. Não melhora suas atitudes e forma de viver porque julga-se melhor que os outros e portanto não consegue autoanalisar-se. Ela está constantemente insatisfeita e desconfiada, é insensível e ambiciosa, tem sempre necessidade de ser reconhecida. Não consegue ser submissa à autoridade espiritual, aos seus líderes, aos pais e ao cônjuge. Nos relacionamentos e na sua vida profissional, é irredutível nos seus pontos de vista, recusando-se a abandonar suas vontades pelo bem do grupo. Quando sua opinião não prevalece, faz o que pode para enfraquecer a autoridade dos outros e quase sempre é irônica e ferina.

As qualidades da minha amiga Ogia não param por aqui. Ela é gananciosa. Ela deseja muita coisa só para ela. Deseja muito dinheiro só para ela. Uma pessoa gananciosa é uma pessoa infiel, capaz de trair o seu chefe ou o seu cônjuge para conseguir atingir um posto de chefia ou satisfazer um prazer carnal. Uma pessoa infiel sente a necessidade de ser admirada, desejada e procurada, por trás disso existe uma gigantesca camada de insegurança. A isso podemos acrescentar o facto de que, em muitas ocasiões, a infidelidade acontece por um medo irracional de solidão. Os infiéis têm em seu subconsciente uma ideia equivocada que os levam a se convencerem de que, se seu parceiro o deixar, ele precisa garantir um “plano b”, precisa ter outra pessoa que substitua aquele vazio deixado imediatamente.

A ganância é um desejo maligno que traz o sofrimento, a angústia, o orgulho, a falta de respeito pelo próximo e muitas outras coisas ruins, porque a pessoa gananciosa não mede esforços para conseguir o que tanto deseja. É uma pessoa infiel e é constantemente invadida pelo pensamento de que sempre pode encontrar "algo melhor", mesmo que tenha ao seu lado uma pessoa que supra todas as suas expectativas. Uma pessoa gananciosa geralmente não sabe que é gananciosa e pode acusar os outros de serem gananciosas. Ou seja um ganancioso pode igualmente ser orgulhosa.

A minha amiga Ogia é tão gananciosa que como quer satisfazer apenas o que o seu coração quer, não ouve os conselhos de pessoas que querem ajuda-la e muitas vezes é grosseira e ignorante com elas, até ao ponto de cometer homicídio. É capaz de mentir para satisfazer a sua ganância. Ela esbanja os bens para satisfazer os desejos do seu coração e acusa os outros de serem gananciosos. Ela é conhecida na zona, como menina de “status”, ostentando carros de luxo, consumindo bebidas de alto custo e se vendo com homens charmosos segundo os seus próprios olhares. A Ogia gosta de orgias, porque isso satisfaz as manias da sua carne.

A Ogia é também invejosa. Ela por ser invejosa não quer e nem imagina que um dia alguém terá as características que ela tem. Ai de você experimentar ter pernas finas, ou braços compridos ou ainda olhos de bola como a Ogia! Ela vai odia-lo. Uma pessoa invejosa quer possuir tudo o que os outros possuem. É uma pessoa que se entristece com o sucesso do Justo. A Ogia vive em função das pessoas ao seu redor sem fazer qualquer avaliação do bem e do mal. Se os outros matam, ela quer matar; se bebem álcool, ela também que faze-lo; se não há respeito, ela quer ser desrespeitosa, etc. Ela quer ser mais do que as outras pessoas são. A Ogia por ser invejosa é ignorante. Tornou-se pobre porque queria beber, gastar dinheiro, mentir e viajar mais do que os outros. E ainda assim não ficava satisfeito porque os outros praticavam estas coisas. A Ogia quer conseguir ou conquistar tudo sem medir as consequências e tem muitas dificuldades em elogiar. Tudo o que ela sabe é elogiar as suas atitudes copiadas das outras pessoas. Ela se incomoda com as pessoas inteligentes e está sempre a criticar com o objectivo de as outras pessoas baixarem o autoestima.

O que me deixou mais intrigante na relação entre os dois amigos, a Ogia e o Justo é a apatia da Ogia. A Ogia é apática. Ela é indiferente em tudo o que é bom. Ela é apática em relação ao emprego, é apática em relação a escola. Ela é apática quando se trata de ter relações sexuais com o seu cônjuge. É apática em tudo. Mas o que me intriga como é que uma pessoa que é simultaneamente orgulhosa, gananciosa e invejosa pode ser ainda apática? Garanto-vos que levei vários séculos na encarnação passada para descobrir como isso é possível. A Ogia consegue ser isso tudo porque tem o amigo Justo que lhe satisfaz. Quando se trata de trabalhar o Justo está lá. Se é para estudar o Justo está presente. Quando é para empreender e gerir negócios o Justo também está lá. Quando é para ser desprezado, o justo está presente. Enquanto isso a amiga Ogia está empenhada em satisfazer as manias da sua carne através dos esfoço do seu amigo Justo.
Mas Justo morreu, neste momento acordei do sono profundo. Gostaria de lá voltar, na terra da Ogia e do Justo, para saber como terminou a estória da Ogia. Porquanto tenho a certeza que a Ogia está doente psicologicamente!

Joseph Katame

(jkatame@gmail.com)