O mar flutua suavemente, estando sossegado e livre do vento indesejável
nos olhos dos navegadores. Estes navegam e navegam, com brilhos nos olhos e
corações alegres. Assim também são as aves, surdos ou mudos ou cantando harmoniosamente
aqueles cânticos que purificam a natureza que há em mim e a minha volta. Assim são
as estrelas, que iluminam as vivências, suavizam o humor da criançada e amaduram o espírito do anacrónico leviano. Assim são as crianças, pequenas, belas, pele
macia que choram e riem, sem conhecer as razões; nada lhes toca o íntimo, vivem o
hoje como o amanhã, a tristeza como alegria, a dor como júbilo e hoje como
amanhã!
No princípio tudo está calmoso e sereno. A estrada com escassez de locomotivas
e dos “um-dois-um-dois” está tudo quieto. A cama mergulhada em colorações
botânicas ou artificiais, vozes são produzidas mas ninguém os ouve longe
daquela bandeja, sussurros e gemidos da música cantada suavemente no fundo dos
âmagos, assim é no princípio. Tudo calmo e suave. No princípio o “my love” é vaidade,
um lugar para trocar olhares e ideias, trocar aroma e abraços. É um lugar
preferido, para me levar do meu ninho para a charrua e vice-versa. No princípio
o etanol é para matar vermes e cuidar as rachaduras do corpo. É a bonança.
Os céus nublados ao ritmo de paciência escondem o porvir de doces
amargos, alegrias tristes e sossegos excitados. O mar que flutua suavemente é apavorado
pela tempestade que se achega lentamente. As aves aceleram e fogem cantando em
desarmonia as canções de aversão. Fogem, vão e voltam, dão voltas e ficam aqui nas
imediações convictas de haverem dado grande distanciamento. As crianças já
choram, a tristeza fere o âmago e um rio de lágrimas transbordam os ouvidos dos
que ouvem. A cama afunda-se na lama, vozes produzidas em surdina irritam a
vizinhança e a música cantada agressivamente rebenta a bandeja. O “my love” é
um pesadelo, não mais oferece segurança diante a tempestade; os lugares
preferidos são outros. Nos BT-50, BMW e diversos, são sonhos adquiridos com a
chegada da tempestade. O etanol já é para abater a fome, ser endividado e morar
nas desarmonias naturalmente. É a tempestade!
Ela não passa de processo normal. Enquanto respirardes, com a bonança
viverás e com a tempestade conviverás. As vezes ela sinaliza a sua proximidade,
mas não passa de engano para te levar a perdição. Outras vezes anuncia a sua
ausência, também para lhe levar ao abismo. Ela expropria a serenidade, a luz e
a bonança. Mas ela não passa de processo normal. Nada mudou. Na bonança ou na
tempestade o mar deve flutuar suavemente, a cama deve manter-se colorida, os
brilhos nos olhos devem manter-se e as aves continuarão a voar e a cantar
harmoniosamente os cânticos que virginizam a natureza.
Joseph Katame
(jkatame@gmail.com)