quinta-feira, 28 de setembro de 2017

A bonança e a tempestade

O mar flutua suavemente, estando sossegado e livre do vento indesejável nos olhos dos navegadores. Estes navegam e navegam, com brilhos nos olhos e corações alegres. Assim também são as aves, surdos ou mudos ou cantando harmoniosamente aqueles cânticos que purificam a natureza que há em mim e a minha volta. Assim são as estrelas, que iluminam as vivências, suavizam o humor da criançada e amaduram o espírito do anacrónico leviano. Assim são as crianças, pequenas, belas, pele macia que choram e riem, sem conhecer as razões; nada lhes toca o íntimo, vivem o hoje como o amanhã, a tristeza como alegria, a dor como júbilo e hoje como amanhã!

No princípio tudo está calmoso e sereno. A estrada com escassez de locomotivas e dos “um-dois-um-dois” está tudo quieto. A cama mergulhada em colorações botânicas ou artificiais, vozes são produzidas mas ninguém os ouve longe daquela bandeja, sussurros e gemidos da música cantada suavemente no fundo dos âmagos, assim é no princípio. Tudo calmo e suave. No princípio o “my love” é vaidade, um lugar para trocar olhares e ideias, trocar aroma e abraços. É um lugar preferido, para me levar do meu ninho para a charrua e vice-versa. No princípio o etanol é para matar vermes e cuidar as rachaduras do corpo. É a bonança.

Os céus nublados ao ritmo de paciência escondem o porvir de doces amargos, alegrias tristes e sossegos excitados. O mar que flutua suavemente é apavorado pela tempestade que se achega lentamente. As aves aceleram e fogem cantando em desarmonia as canções de aversão. Fogem, vão e voltam, dão voltas e ficam aqui nas imediações convictas de haverem dado grande distanciamento. As crianças já choram, a tristeza fere o âmago e um rio de lágrimas transbordam os ouvidos dos que ouvem. A cama afunda-se na lama, vozes produzidas em surdina irritam a vizinhança e a música cantada agressivamente rebenta a bandeja. O “my love” é um pesadelo, não mais oferece segurança diante a tempestade; os lugares preferidos são outros. Nos BT-50, BMW e diversos, são sonhos adquiridos com a chegada da tempestade. O etanol já é para abater a fome, ser endividado e morar nas desarmonias naturalmente. É a tempestade!

Ela não passa de processo normal. Enquanto respirardes, com a bonança viverás e com a tempestade conviverás. As vezes ela sinaliza a sua proximidade, mas não passa de engano para te levar a perdição. Outras vezes anuncia a sua ausência, também para lhe levar ao abismo. Ela expropria a serenidade, a luz e a bonança. Mas ela não passa de processo normal. Nada mudou. Na bonança ou na tempestade o mar deve flutuar suavemente, a cama deve manter-se colorida, os brilhos nos olhos devem manter-se e as aves continuarão a voar e a cantar harmoniosamente os cânticos que virginizam a natureza.

Joseph Katame

(jkatame@gmail.com)
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