Acompanho
com extrema preocupação as duas “guerras” que decorrem no país: a guerra das
armas e a guerra das palavras. O principal teor dessas guerras é, pelo menos na
minha miúda percepção, a procura constante dos responsáveis e dos culpados. Se
olharmos para o estado na perspectiva macro ou sistêmica, podemos facilmente
perceber que todos nós, sem excepção, fazemos parte de um mesmo sistema. Ora,
pela definição básica de sistema, basta que um dos seus componentes falhe para
que o sistema possa reagir (agir) através da retro-alimentação de modo que o
sistema continue estável. Mas não me parece que seja o caso do nosso país;
pretende-se transformar este sistema para que passe a funcionar de forma ad-oc,
onde não há controlo, onde cultiva-se a anarquia, desrespeita-se o respeito, e
reage-se pela reativa.
A guerra das palavras possui como generais os famosos acadêmicos, analistas
políticos, politólogos, analistas, sociólogos e historiadores, e como soldados
as famosas organizações da sociedade civil, os jornalistas, os partidos
políticos e o cidadão comum. Essa guerra de palavras tem quatro componentes
característicos: (i) reagir e reagir sempre mesmo que não haja necessidade para
o efeito; (ii) fazer análises omitindo alguns elementos essenciais; (iii) fazer
análises inventando elementos inexistentes. Este constitui o que chamo
empreendedorismo de elementos falsos; (iv) fazer análises não sistêmicas. É
aqui onde definitivamente reside a minha grande preocupação: analisam-se as
pessoas e não o sistema.
A guerra de palavras não pára por aqui, ela é condimentada com interesses que logo a partida são difíceis de detectar; tal é o caso de alguns analistas que passaram para líderes políticos. Alguem já se perguntou se a mudança da posição de analista para líder político pode ter sido um plano que se pode equiparar a agenda 2025? As aparências enganam. Por isso, o presente texto não terá o mesmo impacto que teve a carta do Prof. Castel-Branco. Devemos olhar para as aparências, aplicar a ciência para apurarmos a essência; como dizia Karl Marx “Se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária.” Por isso aqui vai um conselho para os meus estudantes: qualquer que seja o “estatuto social da palavra”, cruzem as informações, investiguem, leiam e questionem sempre, para procurar a verdade. Porque vocês são cientistas do presente e do futuro, devem “tentar obter novos conhecimentos, fazendo observações cuidadosas e utilizando abordagens sistemáticas, controladas e metódicas” (Bordens & Abbott, 2011). Não aceitem facilmente as informações que vos passam, caso contrário serão usados para objectivos obscuros!
Criticar significa, para mim, contribuir para o crescimento, para a melhoria de condições de vida de todos nós. Mas o direito à crítica não deve ferir o princípio da universalidade e igualdade que é referido no artigo 35 da Constituição da República. Assim, está claro que não se deve fazer aos outros o que não queres que te façam.
Todos nós sabemos que o governo deve ser criticado quando algo está mal, aliás por isso foi eleito. Entretanto, devemos igualmente ser sinceros que são poucas as vezes que as críticas foram bem recebidas, pelo menos publicamente, embora essas críticas não tenham sido acompanhadas por insultos. Não precisa ser todo o povo a levantar a voz, basta um único elemento do povo levantar a voz para que seja uma preocupação extrema do governo. E os analistas, os conselheiros e os dirigentes têm um papel importante nisso, mas é importante que os quatro componentes característicos (vide acima) da guerra das palavras sejam amarados, queimados e enterrados.
Contudo, não se deve personificar ou personalizar os problemas. Devemos ajudar a melhorar de forma ordeira, civilizada e culta, ninguém é perfeito! Algumas vezes reclamamos sobre o lixo que nós próprios deitamos indiferentemente e não nos reservamos o dever de colocar nos contentores. Reclamamos quando não temos ajuda num problema criado por nós próprios nas bebedeiras e nas altas velocidades. Reclamamos porque não sabemos ler, quando nós próprios não nos dirigimos à escola que é gratuita nas primeiras classes.
Enfim, o que parece ser não é o que é. É preciso juntar um conjunto de elementos de forma objectiva, aplicar um método de análise para tecer conclusões.
Joseph Katame
22.11.2013
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