sábado, 24 de setembro de 2016

(O presente)

Um sítio chamado Mente. Uma Mente que vive o presente

(O presente)

Ainda a propósito daquele país chamado Mente. Andei a vasculhar em todas as partes com olhos de ver, mas nada via para contar. Vasculhei a superfície do território, o sub-rés-do-chão, os ramais, as subsecções e o passado. Mas nada de relevante. Então vasculhei as memórias dos antiquados, e aqui sim, vi as coordenadas correctas; a localização de cada parafuso que fixa e assegura a mente do Mente. Os antiquados devem ser cuidados, eles são mais do que uma biblioteca. São a riqueza de um país, o segredo e o enigma de uma pátria. São pilares do Mente construídos com varões de dimensões infinitas. Nenhum sismo pode destruir.

O primeiro parafuso daquele país, o Mente, é o parafuso Exterminação. Exterminação do arcaico. Naquele país os envelhecidos são açoitados e fustigados. Estes gritam e choram, ninguém os ouve. Com as vozes já fatigadas e as porções do corpo sem autossustentação, clamam por auxílio e estimação. A regência seduz invariavelmente a sua patuleia, mas ninguém ouve. Os vindouros trazem outras mentes para aquele país, mas nada; o parafuso está bem apertado e oxidado, mas ninguém ouve. Naquele país, o Mente, a mente é do presente.

O segundo parafuso daquele país, chamado Mente, é o parafuso Hoje. Este parafuso aperta o presente. Aperta bem, mas bem mesmo. O Hoje promove o esquecimento. Os cidadãos daquele país não se lembram nem do passado nem da entidade futuro. Estão cravados para o presente. Apesar dos esforços dos vindouros, da regência e dos poucos ilhados da patuleia em desaparafusar, o parafuso subsiste ileso, não se mexe. Está oxidado e fixado para o presente. Naquele país, o Mente, a mente é do presente.

O terceiro e último parafuso do país Mente chama-se Dilapidação. Este parafuso foi pregado de modo que ninguém consiga desparafusar, nem mesmo o diabo. A oxidação é tão forte que a sua remoção requer a destruição daquele país. A mente está estagnada. Está estagnada no esbanjamento e no levamento. A ideia é esbanjar tudo o que se recebe, de tal sorte que não reste nada para amanhã. É delapidar tudo e de seguida esbanjar, sem norte nem sul. Não importa o passado nem o futuro. A ideia é esbanjar e delapidar. Quanto mais esbanjar e delapidar, a patuleia prova que é de nacionalidade Mentana; prova que é Mentana de gema. Naquele país, o Mente, a mente é do presente.


Naquele país a mente é do presente. É indispensável e imperiosa a desoxidação imediata da Exterminação, do Hoje e da Dilapidação. É preciso retirar os parafusos e renova-los. Ainda é possível tornar o Mente num país do passado, do presente e do futuro. Para isso é imperiosa a unificação dos esforços da patuleia, dos ilhados, dos literatos e dos vindouros de modo que o Mente viva o passado, o presente e o futuro.

Joseph Katame
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