Um sítio chamado Mente. Uma Mente que vive o presente
(O presente)
Ainda
a propósito daquele país chamado Mente. Andei a vasculhar em todas as partes
com olhos de ver, mas nada via para contar. Vasculhei a superfície do território,
o sub-rés-do-chão, os ramais, as subsecções e o passado. Mas nada de relevante.
Então vasculhei as memórias dos antiquados, e aqui sim, vi as coordenadas correctas;
a localização de cada parafuso que fixa e assegura a mente do Mente. Os
antiquados devem ser cuidados, eles são mais do que uma biblioteca. São a
riqueza de um país, o segredo e o enigma de uma pátria. São pilares do Mente construídos
com varões de dimensões infinitas. Nenhum sismo pode destruir.
O
primeiro parafuso daquele país, o Mente, é o parafuso Exterminação. Exterminação
do arcaico. Naquele país os envelhecidos são açoitados e fustigados. Estes gritam
e choram, ninguém os ouve. Com as vozes já fatigadas e as porções do corpo sem autossustentação,
clamam por auxílio e estimação. A regência seduz invariavelmente a sua patuleia,
mas ninguém ouve. Os vindouros trazem outras mentes para aquele país, mas nada;
o parafuso está bem apertado e oxidado, mas ninguém ouve. Naquele país, o
Mente, a mente é do presente.
O
segundo parafuso daquele país, chamado Mente, é o parafuso Hoje. Este parafuso
aperta o presente. Aperta bem, mas bem mesmo. O Hoje promove o esquecimento. Os
cidadãos daquele país não se lembram nem do passado nem da entidade futuro. Estão
cravados para o presente. Apesar dos esforços dos vindouros, da regência e dos
poucos ilhados da patuleia em desaparafusar, o parafuso subsiste ileso, não se
mexe. Está oxidado e fixado para o presente. Naquele país, o Mente, a mente é
do presente.
O
terceiro e último parafuso do país Mente chama-se Dilapidação. Este parafuso
foi pregado de modo que ninguém consiga desparafusar, nem mesmo o diabo. A oxidação
é tão forte que a sua remoção requer a destruição daquele país. A mente está
estagnada. Está estagnada no esbanjamento e no levamento. A ideia é esbanjar
tudo o que se recebe, de tal sorte que não reste nada para amanhã. É delapidar
tudo e de seguida esbanjar, sem norte nem sul. Não importa o passado nem o
futuro. A ideia é esbanjar e delapidar. Quanto mais esbanjar e delapidar, a
patuleia prova que é de nacionalidade Mentana; prova que é Mentana de gema. Naquele
país, o Mente, a mente é do presente.
Naquele
país a mente é do presente. É indispensável e imperiosa a desoxidação imediata da
Exterminação, do Hoje e da Dilapidação. É preciso retirar os parafusos e
renova-los. Ainda é possível tornar o Mente num país do passado, do presente e
do futuro. Para isso é imperiosa a unificação dos esforços da patuleia, dos
ilhados, dos literatos e dos vindouros de modo que o Mente viva o passado, o
presente e o futuro.
Joseph Katame
anotações.info@gmail.com
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