quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

(Prenhidão)

Um sítio chamado Mente. Uma Mente que vive o presente(Prenhidão)

Então, após várias viagens para todos os cantos, estou de volta. Estou de volta para o meu sítio chamado Mente. Amo-o porque sou daqui, de carne e osso. Estava com muitas saudades. Lá no passado e lá no futuro aonde eu me deslocara existem coisas boas, e outras ruins. Coisas aliciantes que me pudessem algemar e lá permanecer encarcerado. Todavia, estava com saudade do Presente, o meu sítio. Com todas tribulações e serenidades; alegrias e tristezas; bajulações e desagrados. O meu sítio é este, aqui!

É aqui onde vivo a minha realidade. Liberdade oscilatória, alegria analógica, paz binária, riqueza anã, e muitas outras realidades. É este e aqui, o meu sítio. Voluntariamente solitário, a sua patuleia vive o presente; o passado e o futuro não são conhecidos. Uma das leis fundamentais deste sítio é simples e clara: prenhez. A produção principal chama-se prenhe. Os esforços do passado e do futuro, da regência, dos vindouros e dos letrados de nada servem. A patuleia continua a aparafusar a cultura de prenhez, motivada pela delícia e preconceito. Motivada pela cegueira e hipoacusia. E os garotos…esses ou pulam ou não estão preparados para assumir esta nova função, de papá. Muito menos a garota. E os pais? Estes vivem com o nosso irmão Pobreza Absoluta. Não têm controlo da situação; estes igualmente são um fruto da prenhez.

Não há planeamento da prenhez. Não há respeito pelos mais velhos. Não há punição. Não há lei. Criam-se xadrezes de relacionamento e reprodução. Abortos, crianças desnutridas, crianças de rua ou abandonadas já não são notícia. Já não são notícias os relatos de infecções e mortes motivadas por esses xadrezes. DTS, HIV, homicícios e suicídios também já não são notícia. Como também não são notícia os esforços da regência, dos vindouros, dos letrados e das difusões. Bebedeira, sexualidade, droga e outras coisas semelhantes são a regra. O meu sítio, a Mente, vive o presente.

Criou-se então uma função exponencial da pobreza, cuja abcissa é atribuída á Regência. Instalou-se um quadro de ociosidades, improdutividades, tristezas, brincadeiras e rapinagens. Este é o meu sítio. Mas tenho fé que as viagens ao passado e ao futuro me permitirão mudar as coisas e tornar este sítio o mais agradável do universo. Um sítio sem comparação. Eu tenho fé. Tenho fé que o meu sítio, o Presente, a mente será também do passado e do futuro. Eu tenho fé que este sítio um dia terá liberdade crescente, alegria ardente, paz e riqueza abundantes. Eu tenho fé que este meu sítio chamado Mente, um dia terá a prenhez prudente, o prazer comedido. Eu tenho fé que o meu sítio terá o preconceito, a cegueira e a hipoacusia amputados. E o quadro de ociosidades, improdutividades, sexualidade, tristezas, bebedeiras, brincadeiras e rapinagens caminharão para Hulene. Eu tenho fé!

Joseph Katame
anotações.info@gmail.com

sábado, 8 de outubro de 2016

Estabilidade

Estabilidade é nascer
e nunca morrer;
é adoecer
e nunca convalescer.

Estabilidade é ser pobre
e morrer pobre;
é ser rico e nunca faltar o cobre;
é nascer endividado
e morrer penhorado.

Estabilidade é amamentar
e nunca desamamentar;
é ser miúdo
e nunca ser crescido;
é estar de barriga
e nunca esbarrigar;

Estabilidade não existe.
Se existe então a ciência não é necessária,
o professor não é necessário,
o médico não é necessário,
o agrónomo não é necessário,
o polícia não é necessário,
o governo não é necessário,
e a vida não é necessária.



Joseph Katame

terça-feira, 27 de setembro de 2016

CARTA Nº5 À MINHA DONAIRE

VENUSTIDADE

Passa muito tempo que lhe escrevo nestes moldes. A última carta da série escrevi num dia semelhante a este; a um ano atrás. Não passa muito tempo, porque existem tantas outras cartas que escrevo no meu coração e armazenadas no meu encéfalo. Deste modo, a sua formosura está trancada no meu antro, tão duro mais do que qualquer coisa dura que existe; tão lindo por me criar alegria de ver a sua lindeza para qualquer canto que os meus olhos se dirigem, incluindo na meditação, no sonho e no trabalho.

Esta vez escrevo-lhe num dia singular; num dia em que estás eufórica porque atingiste pelo menos três decénios. Isto mostra madureza e experiência de vida. Num dia que o omnipotente originou a minha venustidade. Esta que suporta todas trabuzanas, tufões e outras adversidades. Mas tu superas, levantas-te e continuas a caminhar rigorosamente. É de fanfarronar este jeito, e enfatizar a minha gratidão por esse suplício.

Entretanto, o motivo principal desta carta é desejar-lhe muitos anos de existência, vitalidade e vigor e eu estarei sempre ao teu lado, do teu “bumbum” e acima de tudo da tua venustidade. Escrevo-te para lhe dizer que esta data se repetirá um número de vezes infinitamente incontáveis; para lhe dizer que muitas tempestades virão, muitos cobiçosos tentarão derrubar a si o nosso fascínio. Mas continue firme e objectiva para sempre.

Como tenho dito, meu anelo é estar conectado contigo para “Forever”. E então, escrevo também para afiançar que a tua venustidade me deixa fanaticamente louco e insano por ti. Porque a tua venustidade é superior que qualquer superioridade existente no universo; mais atraente que qualquer atractividade existente no cosmo.

Agora tenho a certeza que a nossa afeição é mais linda do que o tamanho do universo, mais forte do que qualquer força do universo e tão duradoira como a vida de Deus.
           
Beijos do tamanho mais enorme do que o universo.

Joseph Katame

sábado, 24 de setembro de 2016

(O presente)

Um sítio chamado Mente. Uma Mente que vive o presente

(O presente)

Ainda a propósito daquele país chamado Mente. Andei a vasculhar em todas as partes com olhos de ver, mas nada via para contar. Vasculhei a superfície do território, o sub-rés-do-chão, os ramais, as subsecções e o passado. Mas nada de relevante. Então vasculhei as memórias dos antiquados, e aqui sim, vi as coordenadas correctas; a localização de cada parafuso que fixa e assegura a mente do Mente. Os antiquados devem ser cuidados, eles são mais do que uma biblioteca. São a riqueza de um país, o segredo e o enigma de uma pátria. São pilares do Mente construídos com varões de dimensões infinitas. Nenhum sismo pode destruir.

O primeiro parafuso daquele país, o Mente, é o parafuso Exterminação. Exterminação do arcaico. Naquele país os envelhecidos são açoitados e fustigados. Estes gritam e choram, ninguém os ouve. Com as vozes já fatigadas e as porções do corpo sem autossustentação, clamam por auxílio e estimação. A regência seduz invariavelmente a sua patuleia, mas ninguém ouve. Os vindouros trazem outras mentes para aquele país, mas nada; o parafuso está bem apertado e oxidado, mas ninguém ouve. Naquele país, o Mente, a mente é do presente.

O segundo parafuso daquele país, chamado Mente, é o parafuso Hoje. Este parafuso aperta o presente. Aperta bem, mas bem mesmo. O Hoje promove o esquecimento. Os cidadãos daquele país não se lembram nem do passado nem da entidade futuro. Estão cravados para o presente. Apesar dos esforços dos vindouros, da regência e dos poucos ilhados da patuleia em desaparafusar, o parafuso subsiste ileso, não se mexe. Está oxidado e fixado para o presente. Naquele país, o Mente, a mente é do presente.

O terceiro e último parafuso do país Mente chama-se Dilapidação. Este parafuso foi pregado de modo que ninguém consiga desparafusar, nem mesmo o diabo. A oxidação é tão forte que a sua remoção requer a destruição daquele país. A mente está estagnada. Está estagnada no esbanjamento e no levamento. A ideia é esbanjar tudo o que se recebe, de tal sorte que não reste nada para amanhã. É delapidar tudo e de seguida esbanjar, sem norte nem sul. Não importa o passado nem o futuro. A ideia é esbanjar e delapidar. Quanto mais esbanjar e delapidar, a patuleia prova que é de nacionalidade Mentana; prova que é Mentana de gema. Naquele país, o Mente, a mente é do presente.


Naquele país a mente é do presente. É indispensável e imperiosa a desoxidação imediata da Exterminação, do Hoje e da Dilapidação. É preciso retirar os parafusos e renova-los. Ainda é possível tornar o Mente num país do passado, do presente e do futuro. Para isso é imperiosa a unificação dos esforços da patuleia, dos ilhados, dos literatos e dos vindouros de modo que o Mente viva o passado, o presente e o futuro.

Joseph Katame
anotações.info@gmail.com

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Um sítio chamado Mente. Uma Mente que vive o presente

(Introdução)
Hoje é um daqueles dias que a meditação comparece, depois de tanta procura pelas respostas. Muitas hipóteses testadas, mas todas elas rejeitadas. Isso tudo vem a propósito da Mente e do presente.

Há um sítio chamado Mente. É uma terra, um país. Um país cujas mentes dos seus habitantes usufruíam de qualidades diversas, quais sejam: intelecto, inteligência, razão, espiritismo, entendimento, pensamento e imaginação. Estas qualidades, em última análise revelam definitivamente o alcance do termo mente. Em uma primeira reflexão, podemos estar induzidos a concluir que é uma terra de gente sem imperfeições, sem questões e sem preocupações.

Muitas nações visitam aquele país. Nações de todos os cantos e encantos do mundo. Por essas orlas chegam todas as línguas, todas as colorações, todas as erudições e todas as ignorações. Mas o sítio continua o mesmo, com mesmas características, mesmos desafios e acima de tudo com mesma mente.

Sobre aquele sítio existem muitas estórias para contar. Estórias da Mente e do presente. Mente sem futuro, Mente somente com o presente. Talvez exista um futuro, que fica na ambição e não na acção. Porventura exista um porvir, mas a força da fricção toma o rumo unicamente para o presente, um átrio cerrado e blindado. E para iniciar a contar essas estórias, que são muitas, vamos historiar uma estória de cada vez. As estórias da Mente que não são mentira. A Mente do presente que é presente daquele país.

Hoje passamos a enumerar somente as estórias deste país chamado Mente. Estórias cumulativamente designadas 5P, que exprimem: Presente, Prenhidão, Pranto, Preguiça e Porvir. Nos dias próximos iremos, tintim-por-tintim, contar contando cada um dos cinco P das estórias da Mente, sem mentir nem medir as palavras.




Joseph Katame

domingo, 28 de agosto de 2016

Estou triste

Hoje acordei meio triste. Não sei ao certo por quê. Uma casa vizinha sofreu um roubo. Um andaime e um tambor de 210 litros de água. Eram meus incumbes, mas ficavam por lá desde que a minha “obra” estreou. Mas não me parece que este seja o motivo da minha tristeza. Porque já estava triste mesmo quando o sono profundo estava no auge. Estava triste quando fui-me deitar no dia anterior. Estava triste tanto quanto estou hoje. Talvez a história do andaime e do tambor tenha acrescido uns dois porcento da minha tristeza.

Ainda assim, faço agora os cálculos das perdas e cheguei a conclusão que os valores rondam os 7000 Mt (sete mil meticais), são valores acima do salário mínimo. Agora sim, estou mais triste porque perdi bens que valeram moedas significativas. Com estes valores compraria brios ou ajudaria na civilidade dos meus filhos e assim combater a iliteracia e a pobreza. Tenho quase certeza que os larápios irão despachar em troca de “soldier”, “Zed” ou “Tentação “ para alimentar os seus vícios e estimular mais roubos. Deste modo vão contribuindo para a aceleração da pobreza e a atenuação do progresso.

No entanto o que originou a minha tristeza não tem nome. Não sei como designar. É uma legião de factores detractores. Estou triste porque a minha tristeza não tem razão aplausível. Ora vejamos. No meu sono profundo tive dois sonhos impressionantes. A seguir passo a contar a história de cada um dos sonhos. São apenas sonhos e não realidades, porquanto não me ajuízem.

No primeiro sono profundo sonhei com dois senhores. Ambos eram adultos, cujas idades situam-se entre 50 e 65 anos aproximadamente. Um chamava-se Nitira e o outro chama-se Quetu. Estes senhores tinham posses e influenciavam o destino do seu país. Não me lembro o nome do país, mas no meu sonho via ambiente confuso feito de florestas, planícies, planaltos, prédios e cabanas a pau-a-pique. Assuntos de actualidade e que nutriam as manchetes dos jornais estavam referidos estes senhores. Tanto o Nitira como o Quetu são pessoas sem arduidades, e por isso são da classe alta. No entanto, quando os Deudis do Quetu entrassem em acção, este senhor era irreconhecível. Ele devorava tudo. Queria tudo do Nitira. Queria tudo da Patuleia. Era capaz de açoitar ou mesmo trucidar pessoas. Ele vivia no reino do “Quero Tudo”.

E os mesmos Deudis lembravam ao Nitira que ninguém lhe devia tirar nada. O Nitira por sua vez, vivia no reino ao lado, o reino de “Ninguém me Tira”. O Nitira não partilhava nem tão pouco a sua riqueza ou ideias com o Quetu e muito menos com a Patuleia. Os dois sores tinham algo em comum: todas as suas acções e ideias eram implementadas em nome da Patuleia. Assim, a Patuleia era a pessoa sofredora das acções do Nitira e do Quetu. Além disso, a Patuleia é uma pessoa mísera que lhe falta quase tudo.

Quando a Patuleia se constituía para resolver o problema dos reinos “Quero Tudo” e “Ninguém me Tira”, eis que a pipi me desperta e convida-me para atende-lo. A tristeza começou a dar cabo de mim, porque sabia que a solução estava por perto e que os dois reinos se uniriam num só. Mas deixemos para lá, é apenas um sonho.

No meu regresso da micção, um segundo sono bem profundo dá cabo de mim. Desta vez sonhei com a Patuleia. Foi um sonho com alguns cenários não muito claros e portanto não posso lembrar-me de todos detalhes de forma nítida. A Patuleia dificilmente usa a viatura pessoal nos princípios e meados do mês. Serve-se da boleia ou dos serviços de transporte de passageiros para se deslocar ao posto de trabalho. Quando chega ao fim do mês recebe a sua recompensa em forma de moedas. Nesse dia de salário a Patuleia não pensa noutra coisa senão em compensar os trinta dias que passou falido. Neste dia de recompensa, a Patuleia abastece o carro “full tank”, passa da esquina dos humburguers, pizza ou carne para matar a fome e saudades de uma beer. Se é no meio de semana, a Patuleia vai a tempo de chegar a casa no mesmo dia. Se for sexta-feira, o risco de chegar a casa no domingo é catastrófico.

Enquanto bebe, a Pauleia pega no volante. Quanto mais bêbedo fica mais esperto se torna ao volante. As garrafas ou latas pequenas de bebidas, e os diversos resíduos são espalhados pela estrada e ruas adentro. O som do carro está num volume ensurdecedor. E as conversas giram em torno dos senhores Nitira e Quetu, os quais são aludidos como os progenitores de todos os problemas do seu país.

Já em casa, a Patuleia depara-se com um cenário de penúria. Falta tudo. Falta gás, carvão, arroz, peixe, feijão, sabão, óleo, caldo e sal. E a família tomou apenas uma refeição por dia desde a sexta-feira. A roupa está suja e não há como lavar. A Patuleia é uma pessoa nervosa e já quer implicar com a família. Ora “não me chateia”, ora “estou sem mola” são algumas das expressões que se ouvem. Tudo porque a Patuleia não sabe como gastou toda a sua recompensa. E ainda tem contas a pagar, dos empréstimos contraídos com os agiotas.

A Patuleia decide então endividar-se ainda mais, contraindo empréstimos com outros agiotas com dois propósitos principais: pagar dívidas antigas e comprar mantimentos básicos para a casa. E ainda restar com algumas moedas para gerir “chapa-cem” ou “my-love”. Este cenário é cíclico, e acontece em todos os meses. Actualmente a recompensa da Patuleia não é suficiente para liquidar todas as dívidas e por isso entrou num ciclo vicioso de endividamento.


O meu telemóvel tocou irritamente. Era o meu vizinho que queria comunicar-me sobre o roubo do andaime e do tambor. Espertei. A minha tristeza agravou-se nesse instante porque o vizinho negou-me a oportunidade de acompanhar o desfecho da história da Patuleia. Estou triste. Mas são sonhos. Contudo, os sonhos podem se tornar realidade e por isso irei aprender e investigar formas de como prevenir e resolver este tipo de problemas antes dos mesmos chegarem ao meu país.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Vou escrever

Vou escrever acerca de muitas coisas boas que acontecem no meu país. Coisas de alegria e outras de tristeza. Ambas são coisas boas. A alegria é boa, faz bem ao coração; rejuvenesce e abençoa. A alegria é algo desejável por todos, desde os mais pequenos aos mais anosos. Para estar alegre não precisa estudar, e muito menos aprender. Para estar alegre precisa ter vontade; vontade de viver, vontade de sorrir e vontade de voar.

Vou escrever sobre a alegria que contagia e atrai. Contagia as pessoas ao seu arredor, contagia as boas obras, contagia o respeito. A alegria que atrai a sorte. A sorte que é a oportunidade bem aproveitada no momento certo. A alegria atrai o dinheiro; atrai bons amigos. Atrai ainda mais coisas impossíveis de descrever. Vou escrever sobre coisas alegres do meu país.

Por outro lado, vou escrever sobre a tristeza, a força oposta da alegria. Vou escrever para estar inscrevido e ser usado pelos vindouros. Vou escrever sobre a força de atrito que se opõe ao deslocamento da nação, à riqueza e à alegria. A tristeza é boa quando é usada na reflexão e meditação; é boa quando serve para corrigir o desacertado e trazer a alegria. É sobre isso que vou escrever. Vou também escrever sobre a tristeza causada pela natureza, para que conste; vou escrever a tristeza causada pelo homem desumano. O homem que se intitula completo mas às escondidas é incompleto. Vou escrever; vou grafar tudo, tintim por tintim.

Vou escrever, mesmo que isso possa valer o silêncio da alma, incompletude dos órgãos ou maledicência. Vou escrever tintim por tintim: o crescimento, a crise, a guerra, a criminalidade, as mortes, a mentira, a insegurança, a ganância, a preguiça, a improdutividade, a acusação, o ódio. Tudo isso e muito mais, vou escrever.

Ao escrever, vou assentar inspirações para os vindouros. Vou escrever lembranças e inalações que produzam alegria para os venturos. Para que os modelos de hoje sejam ganhos para a vida melhor, sem tristeza, guerra, ódio e fome.

Vou escrever e pelejar contra a penúria. Vou compor sobre a penúria da mente, a miséria da liberdade e a carência do sustento. Vou escrever e pelear com a grafia e anotações para o melhor da minha nacionalidade.


Joseph Katame

sexta-feira, 15 de julho de 2016

QUANDO AS APARÊNCIAS ENGANAM

Acompanho com extrema preocupação as duas “guerras” que decorrem no país: a guerra das armas e a guerra das palavras. O principal teor dessas guerras é, pelo menos na minha miúda percepção, a procura constante dos responsáveis e dos culpados. Se olharmos para o estado na perspectiva macro ou sistêmica, podemos facilmente perceber que todos nós, sem excepção, fazemos parte de um mesmo sistema. Ora, pela definição básica de sistema, basta que um dos seus componentes falhe para que o sistema possa reagir (agir) através da retro-alimentação de modo que o sistema continue estável. Mas não me parece que seja o caso do nosso país; pretende-se transformar este sistema para que passe a funcionar de forma ad-oc, onde não há controlo, onde cultiva-se a anarquia, desrespeita-se o respeito, e reage-se pela reativa.

A guerra das palavras possui como generais os famosos acadêmicos, analistas políticos, politólogos, analistas, sociólogos e historiadores, e como soldados as famosas organizações da sociedade civil, os jornalistas, os partidos políticos e o cidadão comum. Essa guerra de palavras tem quatro componentes característicos: (i) reagir e reagir sempre mesmo que não haja necessidade para o efeito; (ii) fazer análises omitindo alguns elementos essenciais; (iii) fazer análises inventando elementos inexistentes. Este constitui o que chamo empreendedorismo de elementos falsos; (iv) fazer análises não sistêmicas. É aqui onde definitivamente reside a minha grande preocupação: analisam-se as pessoas e não o sistema.

A guerra de palavras não pára por aqui, ela é condimentada com interesses que logo a partida são difíceis de detectar; tal é o caso de alguns analistas que passaram para líderes políticos. Alguem já se perguntou se a mudança da posição de analista para líder político pode ter sido um plano que se pode equiparar a agenda 2025? As aparências enganam. Por isso, o presente texto não terá o mesmo impacto que teve a carta do Prof. Castel-Branco. Devemos olhar para as aparências, aplicar a ciência para apurarmos a essência; como dizia Karl Marx “Se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária.” Por isso aqui vai um conselho para os meus estudantes: qualquer que seja o “estatuto social da palavra”, cruzem as informações, investiguem, leiam e questionem sempre, para procurar a verdade. Porque vocês são cientistas do presente e do futuro, devem “tentar obter novos conhecimentos, fazendo observações cuidadosas e utilizando abordagens sistemáticas, controladas e metódicas” (Bordens & Abbott, 2011). Não aceitem facilmente as informações que vos passam, caso contrário serão usados para objectivos obscuros!
Criticar significa, para mim, contribuir para o crescimento, para a melhoria de condições de vida de todos nós. Mas o direito à crítica não deve ferir o princípio da universalidade e igualdade que é referido no artigo 35 da Constituição da República. Assim, está claro que não se deve fazer aos outros o que não queres que te façam.
Todos nós sabemos que o governo deve ser criticado quando algo está mal, aliás por isso foi eleito. Entretanto, devemos igualmente ser sinceros que são poucas as vezes que as críticas foram bem recebidas, pelo menos publicamente, embora essas críticas não tenham sido acompanhadas por insultos. Não precisa ser todo o povo a levantar a voz, basta um único elemento do povo levantar a voz para que seja uma preocupação extrema do governo. E os analistas, os conselheiros e os dirigentes têm um papel importante nisso, mas é importante que os quatro componentes característicos (vide acima) da guerra das palavras sejam amarados, queimados e enterrados.
Contudo, não se deve personificar ou personalizar os problemas. Devemos ajudar a melhorar de forma ordeira, civilizada e culta, ninguém é perfeito! Algumas vezes reclamamos sobre o lixo que nós próprios deitamos indiferentemente e não nos reservamos o dever de colocar nos contentores. Reclamamos quando não temos ajuda num problema criado por nós próprios nas bebedeiras e nas altas velocidades. Reclamamos porque não sabemos ler, quando nós próprios não nos dirigimos à escola que é gratuita nas primeiras classes.
Enfim, o que parece ser não é o que é. É preciso juntar um conjunto de elementos de forma objectiva, aplicar um método de análise para tecer conclusões.
Joseph Katame








22.11.2013

quinta-feira, 30 de junho de 2016

CARTA Nº4 À MINHA DONAIRE

Assunto: MINHA XODÓ

            Última vez escrevi num dia singular, incomum e extraordinário. Num dia de engrinaldas, que de certeza estavas auspiciosa. Num dia que era reservado para jubilar o grande MPIMI.

Desta vez escrevo-te num dia igualmente singular, mas não extraordinário. Num dia que Jeová emanou a minha Xodó. Num dia que sempre te tornarás bebé. Em todos os anos, a 08 de Janeiro te tornas um querubim. Não porque a idade diminui, mas porque este dia te recorda a época do pequerrucho, naqueles tempos que choravas e ninguém sabia os motivos e as pessoas riam-se; naqueles tempos que rias e ninguém sabia os motivos e identicamente riam-se de si; bufavas, comias arreia, choravas, brincavas, zangavas castamente.

            Escrevo-te desta vez para lhe dizer que és minha Xodó; para dizer que Deus lhe abençoe e lhe proteja; que Deus lhe dê muitas vivências e felicidades.

            Tu és a Xodó, minha Xodó, que faz meu coração doer de estima e bater de doçura. Meu anelo é estar conectado contigo para sempre ou “Forever” como diz o inglês. Escrevo-te para asseverar que a minha Donaire é minha cara, meu coração, cabeça e imagem. Por conseguinte, a sua alegria é minha alegria, ela que se encontra no monte Kilimanjaro; a sua tristeza é minha tristeza, mas esta encontra no fundo mais fundo da terra, e tanto o diado como Deus blindou-a para que nunca sobressaia até nós.

            A nossa afeição é tão linda do tamanho do universo, tão perfeita como o amor de Jesus e tão duradoira como a vida de Deus. Destarte, lhe imploro minha Donaire, minha Xodó: Sê forte com uma força que nunca existiu contra todas as forças malignas, demónios e malfeitores que se manifestam e investem de diversas formas para desconectar o nosso afecto; para nos aniquilar e achatar, e festejarem. Sê forte minha Xodó. Sê forte para que andemos de mãos, corpo e coração juntos para um futuro de sonhos ambiciosos concretizados.

            Para atermar, tenho palavras que não podem descrever a real situação do meu coração, mas que de forma singela digo te estimo minha Xodó.

Beijos do tamanho mais enorme do que qualquer coisa maior do mundo.

Joseph Katame

08/01/2015

domingo, 26 de junho de 2016

AXIOMAS E TEOREMAS DA PAZ EM MOÇAMBIQUE

AXIOMAS
Axioma 1: O povo moçambicano quer paz.
Axioma 2: O uso das armas acaba com a paz do povo moçambicano.
Axioma 3: O governo representa o povo que o elegeu.
Axioma 4: As decisões do estado devem reflectir a vontade do povo.
Axioma 5: Em Moçambique existem acadêmicos, Doutores, Engenheiros, pensadores e pessoas de bom senso.

TEOREMAS
Teorema 1: O povo moçambicano tem capacidade de produzir consensos.

Prova: Suponhamos o contrário, ou seja o povo moçambicano não tem capacidade de produzir consensos. Então em Moçambique não existem acadêmicos, não existem Doutores, não existem Engenheiros, não existem pensadores; o que não constitui a verdade pois contradiz o axioma 5 , provando-se deste modo o teorema 1 por contradição. Ou seja em Moçambique existem acadêmicos, Doutores, Engenheiros, pensadores e pessoas de bom senso que conjugando os esforços podem produzir consensos.

Teorema 2 – sobre o estado actual da paz: A distância entre o diálogo e a violência cresce com o tempo, sendo a violência mais próxima de Moçambique.

Prova: Pelo método de indução matemática, temos:
Seja n o número de rondas de diálogo e dn, dn+1, dn+2, ... os resultados de n, n+1, n+2, ... rondas de diálogo.
1.      Para n=1, temos d1 = impasses + acusações + violência.
2.      Assuma que  para n=k é verdade, isto é dk = impasses+acusações+violência. Então é preciso mostrar que para n=k+1 é verdadeiro.

Desde que impasses+acusações+recurso a armas = dk, segue que [(impasses+acusações+violência) + (impasses+acusações+violência)] = dk + dk+1=2*( impasses+acusações+violência)=2*dk. Isto é a violência cresce com o tempo, provando-se deste modo que nos moldes actuais o teorema 2 é verdadeiro para qualquer número inteiro positivo n.

CARTA Nº3 À MINHA DONAIRE

Assunto: MPIMI


Desta vez te escrevo num dia singular, incomum, excelente, extraordinário. Num dia de engrinaldas, que de certeza estás auspiciosa. Escrevo-te para dizer que estou jucundo, radiante e faceiro pelo MPIMI. O MPIMI contribuiu de forma inusitada e exorbitante para a nossa pátria amada, a pátria de herois, a pátria que viu nascer a minha donaire que tem uma beleza nímia, uma beleza mais bela que a beleza, uma beleza colossal.

O MPIMI não só contribuiu para a pátria dos herois, a nossa pátria amada, como também produziu e colheu uma coisa muito catita, uma coisa única: a minha donaire. Nenhum outro heroi produzira ou produzirá uma boniteza, formusura, lindeza como tu és, minha donaire.

Escrevo-te para asseverar que a minha donaire é a imagem e a alma de MPIMI. Dessarte, a minha donaire deverá continuar as belas obras do MPIMI. Instruir-se, empreender, apostar, batalhar, e tornar-se audaz para que no futuro as Selénias e Maíras se sintam alardes e vangloriadas.

O MPIMI é um exemplo de batalha, de ofício. É o exemplo exemplar que Moçambique precisa. E quanto a mim, tenho a confessar que o MPIMI constitui também um guia para as minhas aspirações. Um guia para o meu caminho, uma luz para as minhas metas. E a minha Donaire deve ser assim, um exemplo de  MPIMI.

Para terminar, tenho a dizer que te adoro, te amo, te estimo, te gosto. Por isso, num dia como este, em que recordamos e jubilamos o MPIMI, tenho a dizer que todos nós, nos guiemos com a luz de MPIMI, com dedicação, determinação e rectidão.

Te amo

Joseph Katame
25/06/2014

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Um fim-de-semana de Cabangada

Estou a cumprir uma daquelas viagens de trabalho ofegante, no norte do país. Manhã, muito cedo, é reservada para uma pequena aeróbica ou aero hit no quarto ou ainda, uma caminhada de trinta minutos arredores do hotel. O telefone não deixa de tocar, ora mensagens ora chamadas que entram, algumas das quais obrigam uma pausa da gímnica.

As 08:00h inicia o lavouro que não tem hora de término, mesmo após o regresso ao hotel um conjunto de calhamaços deve ser analisado e digitalizado até tarde. As metas devem ser cumpridas. Não há horas extras, mas o apetite pela profissão é superior que o bagaço. É preciso trabalhar muito, duro e com gosto; o sucesso virá por si só.

E ao fim de semana, como é de se esperar, é reservado não só para o descanso como também para visitar familiares, amigos, locais turísticos e porque não dançar um pouco numa das discotecas que está a bater na praça. Então escolhi, servindo-me da lógica, visitar o meu irmãozinho Nkwamba. Ele vive naquelas bandas do bairro de expansão, e esse fim-de-semana está de folga no trabalho. Peguei a viatura 4x4 e fui. Pelo caminho avistei buracos na estrada, areal, pântanos e viaturas enterradas. Nem precisei accionar a tracção a quatro rodas, afinal aquelas situações ainda estavam muito aquém das capacidades do BT-50.

Cheguei após várias voltas, manobras, sms e chamadas, para localizar o Nkwamba, que estava numa sessão de cabangada. Num quintal e por baixo da mangueira estão sentadas ou de pé pessoas de todas as idades: as mães com crianças ao colo, adolescentes, jovens, homens, mulheres e idosos. Os baldes, troncos de árvores, caixas de cerveja, esteiras e bidões servem de assento. Motorizadas estacionadas e outras sendo exibidas pelos seus donos com acelerações e pequenos ralis. As pessoas sentadas em pequenos grupos que lembram as mesas redondas. Na verdade são as tradicionais mesas dos restaurantes.

Juntei-me ao grupo do Nkwamba no qual fui convidado a sentar-me na cadeira de plástico. A medida que me sentava, as pessoas dos outros grupos concentravam os seus olhares em mim, denunciando assim que se aperceberam da presença de um estranho naquele local. Agi naturalmente, ouvindo a música que aí tocava com volume exageradamente alto. Músicos e cantores locais eram predilectos. Consegui reter os seguintes nomes de músicos: Chimbunga, 11 balas e Dama Ija. As conversas, em tom alto devido ao barrulho, eram sobre assuntos actuais; o mais predominante era sobre EMATUM. Só ouvi e não contribuí, até porque alguém alertou-me que devia evitar comentar assuntos desta natureza porque “o país não está bom”.

Voltando ao que interessa para hoje. Perguntaram-me o que eu queria beber, mesmo sabendo que não haviam alternativas. Respondi que podia fazer companhia. Serviram-me a cabanga numa caneca de plástico. Cabanga é uma bebida de fabrico tradicional feita a partir do farelo de milho. Bebi um pouco, mas estava muito amarga e confessei ao meu irmãozinho que não conseguiria acabar. Nesse momento o Nkwamba alertou-me que existem vários sabores de cabanga: do mais doce ao mais amargo. Então solicitei o mais doce. Bebi com gosto os 500ml.

As conversas nos vários grupos da cabangada estava muito animada. Havia interacção entre os vários grupos. Para o efeito qualquer um dos elementos de um grupo poderia tomar iniciativa de interagir com o outro grupo, independentemente da distância que os separava, bastava elevar o tom da voz para ser ouvido. Outros dançavam esporadicamente com passos que lembram uma árvore abanando devido ao vento; com a descoordenação e falta de sustentação, os aplausos e assobios vinham de todos os lados. Era a cabanga relaxando as mentes diminuindo a lógica para quem assistia minimamente lúcido. A música local, a marrabenta, o pandza, e muitas variantes nacionais tinham o seu eco naquele local. Sim senhor, alí havia a verdadeira unidade nacional. Consumir a música moçambicana sem nenhuma descriminação regional ou tribal. Senti-me verdadeiro moçambicano, e as lágrimas não resistiram a tanta emoção, e questionei-me: porque irmãos matam outros irmãos? Não tive resposta.

A cabanga era servida em baldes de aproximadamente 5 litros e os consumidores retiravam do balde com recurso a uma caneca para os seus copos. “Kunogwa mwenu!” (é saborosa) ouvia-se num dos grupos o elogio pela qualidade da cabanga. Outros estavam já num estado pastoso que só ingeriam a cabanga inconscientemente sem noção do seu estado de embriaguez.

Notei que aquele lugar era um ponto de encontro entre amigos e familiares. Eram chamadas por aqui, sms por alí, as pessoas marcando encontro para a cabangada naquele local. Era também um local onde as crianças e adolescentes aprendiam a cabangada, e esqueciam os seus direitos e deveres. Aliás os direitos da criança estavam sendo violados a partir da exposição a que estão submetidas naquele local. Lembro-me ter visto um miúdo dos seus quase 12 anos “dando uma corneta” clandestinamente de um copo de cabanga. A sua mãe nem viu porque estava animada naquele papo que se desenvolvia no seu grupo, agravada pelo seu estado de memória relaxada!

As pessoas não paravam de chegar ao local a medida que ia escurecendo. Era chegada a hora de ir para o hotel. Não queria tomar mais, embora tivesse vontade de um pouco mais de cabanga, porque os 500ml tomados foram suficientes para o início de uma fase sem lógica de um indivíduo. Oxalá se todos pudessem medir e reconhecer os seus limites na cabangada!

Joseph Katame

terça-feira, 14 de junho de 2016

CARTA Nº2 À MINHA DONAIRE

Assunto: Me perdoe


            Te escrevo esta carta sem olhos para discortinar nem ar para resfolgar. Estou numa escuridão e num antro de muitas dubiedades. Apenas você Donaire, aliás minha Donaire, apenas você pode fornecer-me a argúcia necessária para que saia da negridão. E porque você é a minha refulgência, vela e rosácea não tenho como ficar com brio.
            Estou triste, minha Donaire. Estou triste porque a minha Donaire tem uma perspicácia inexata sobre mim. Não, não pode ser! Não sei o que posso fazer para que mude. Simplesmente pedindo que confie em mim.
            Nem tudo o que vê é indubitável ou acurado. Nem tudo o que ouve é veras. Só usando este princípio poderemos viver exultantes para sempre.
            Minha Donaire. Os adjacentes nunca são magnânimos, nem as amigas nem os colegas. Eles mostram-te os dentes e por traz de si arquitectam e constroem planos para te desbaratar.
            Minha Donaire. Eu te amo e sempre vou amar-te. Te amo mais do que o tamanho do planeta Terra. O amor que sinto é mais quente que o sol, mais doce que o mel e mais duro que o aço. Por isso, tire da cabeça o misantropo que só vai nos destruir. Se ainda me ama retire e queime a melindre que anda no seu íntimo. Queime até queimar. Queime e deite bem longe para que não volte a perturbar.
            Não precisas evidenciar a ninguém minha Donaire, nem alguém nem outrem que teu marido é ou não sisudo, devotado ou outra coisa pior. O que tens a provar é que tu amas o teu consorte, que pontificas o teu marido a fazer coisas boas.
            Por isso minha Donaire, se ainda me amas então esqueça o tormento, construa o futuro com teu consorte.
            Esqueça minha Donaire. Esqueça de pensar que teu marido não gosta de si ou pensa de esquecer que teu marido não gosta de si. Teu marido gosta de si mais do que a si próprio. Gosta mais do que qualquer outra coisa.
            Por fim minha Donaire, peço perdão por tudo de errado que já tenha feito. Não sou perfeito. Mas o amor que sinto por ti é o mais perfeito dos perfeitos.

Joseph Katame

anotacoes.info@gmail.com

segunda-feira, 6 de junho de 2016

CARTA Nº1 À MINHA DONAIRE

Título: Agora será assim!


Calma! Não te assustes minha Donaire. Lembras-te das cartas humildes que escrevi para si no passado? É natural que não se recorde, porque passa muito tempo que não escrevo para si minha Donaire. Mas não significa que me esquecí de si, e muito menos que não te amo. Eu te amo!

Eu te amo como por aí se diz: "Te amo como nunca amei ninguém". Não tem como não te amar. Tu és o meu coração que bombeia o sangue. Tu és o cérebro que me faz raciocinar. Tu és a visão que me faz ver. Tu és as minhas pernas que me fazem andar. Por isso não tem como não te amar minha Donaire. Tu és parte de mim. O mundo não pode dissociar uma parte de mim; nem a guerra de muxunguè, nem a guerra dos fofoqueiros, nem a guerra dos invejosos pode dissociar uma parte de mim, minha Donaire. Deus não deixaria, Mijigo não deixaria, Katame não deixaria, Mpiuka não deixaria e muito menos você minha Donaire. Aliás eu sou você e como tal deixar de te amar é deixar de amar a mim mesmo!

Agora será assim, minha Donaire! Registar com ortografia usando a tinta artesanal ou do então amigo LapTop ou ainda da família facebook, o que se passa em mim, para que minha Donaire possa coleccionar e adornar a biblioteca do nosso amor. Sim, será sempre assim! Para que nenhuma minhoca possa conseguir roer qualquer certeza ou nascer qualquer dúvida sobre a relutância do nosso amor. Será sempre assim. Até porque fica bonito, ter um milhão de milhares de textos como este arrumado na nossa biblioteca "Glamour". Imagine só, um dia já velhos, estas cartas servirão para reviver o passado e ensinar as nossas Selénias e Maíras.

Por isso, para terminar queria dizer uma coisa que já ia esquecendo. O que sinto por ti nenhúm cientista conseguiu inventar até hoje, e nunca mais alguém conseguirá. Nem os românticos conseguiram inventar o que eu sinto por ti. Nem mesmo o Luís Vaz de Camões conseguiu inventar o que sinto por ti. Porque o meu amor não só é fogo que arde sem se ver, como também é uma visão invisível, é uma estrela que não existe, é uma lua que não existe, é tudo o que não existe. Mas na verdade ele existe, está aqui bem dentro de mim, e ninguem pode encontrar nem tirar de mim. Por isso minha Donaire, isso será sempre assim!

Joseph Katame
06/06/2014

O pão do índico

Ao rebentar do sol és procurado.
Desejado por todos, desde os embriões até os arcaicos.
Ao cintilar do sol és ouro catado,
cantado e apetecido pelo índico.

Ao alvorar e ao escurecer és louvado!
A mamana com bebé ao colo aguarda horas a fio,
pelo pão que sai as ninharias, e o renque parado.
Não sente nem a chuva, nem a ventania nem o frio!

Ao raiar do sol és procurado.
Em filas perfumadas com a catinga, ramelas e plástico preto;
No bairro, no beco e na rua, mesmo com o preço pesado.

Ao cintilar do sol és ouro catado.
Ao matabicho, ao almoço e ao jantar és predilecto,
E o encarecimento é minorado!

A LUTA CONTRA O GUEINE

Sabe-se que o cidadão comum não quer a guerra. Os jovens e os idosos não querem a guerra. As mães e os pais não querem guerra. Os combatentes da liberdade também não querem a guerra! Nem a Renamo nem a Frelimo querem a guerra.